domingo, maio 13, 2007
Olho ainda, e sempre, as tuas mãos. As tuas dúplices mãos – indecisas e vorazes, devastadoras e leves, lentas, imprecisas. O que desejo é sobretudo o que, antes de ti e depois de ti, as tuas mãos desejam em mim.
Os teus olhos assim
Olhar os teus olhos assim: sabendo que, olhando-me, procuram em mim o que em ti mesma desejas. Como se apenas pudesses tocar-te verdadeiramente quando me tocas.
terça-feira, abril 10, 2007
Pra não falar da vizinha que anda a pedi-las
Escrever um post num blog que já não existe - como este, parado no tempo, mudo, quedo, manso - dá-nos de súbito assim um prazer como quando, após algum tempo de inércia, regressamos, convictos, à punheta douta e avisada.
terça-feira, outubro 10, 2006
Luas
Em boa verdade - verdade verdadeira, sem tirar nem acrescentar um til -, ao tempo que não esgaramanteio uma laustríbia que se diga benza-te Deus...
domingo, setembro 24, 2006
Eu também não se me dava acordar assim - sem o sr. Bush por perto, óbvio...
A Charlotte anda a perder qualidades. Tenho que me virar de novo ali, a fazer um ponto de ordem, a ver se a puxo ao ponto, a ver se, é como quem diz, lhe não permito a subversão dos apetecidos despertares: que além de deitada, me parece que anda a espertar ultimamente em decúbito dorsal. Ora se a gente pode lá aceitar que acordando assim, como Uma Thurman acabando de tirar os dedos de onde se sabe, o que lhe discorra é o Sudão e o Sr. Bush e a região de Darfur… Tsss: isto, a tumultuosa política e escrever crónicas com imposição de número de caracteres no jornal que volta a ser de referência, é no que dá.
O cilindro
A Arte do esgarçanço e a punheta – o erotismo e a pornografia… Claro que destas diferenças decorrem desconformidades estéticas – mas a questão é outra, essencialmente, antes de mais: a diferença entre conhecer e não conhecer um corpo, a diferença entre desejar o desejo ou irromper contra a costeleta como um cilindro que pisa o macadame – repondo, portanto, as cotas de projecto. Pornografia é a foda múscula, de roldanas agitadas, de guinchos e força hidráulica, de posicionado fulcro, de acerto de rebites, de calhada mecânica (e não é pouco); erotismo é também isso – a foda como deve de ser, necessariamente: mas acrescidamente o tocar e o estremecer, o dizer e o ouvir, o ecoar das páginas antigas, a literatura, um decassílabo, a dança sublime, o repetir e o desalentar: o vir-se de dentro para dentro – e isso, ora, exige um bocadinho de treino, de estudo, de morosa temperança...
quarta-feira, julho 26, 2006
Platão
Ela vinha-se-me com queixumes acariciando-me os ombros de tristeza e procura de compreensão, e lacrimejando, que o seu amor nunca haveria de concretizar-se por não poder, ela, viver o que não fosse perfeito e eterno. E que isso a estava a levar à loucura. (O que é o amor platónico? É isso: é acreditar que o mundo verdadeiro é imperfeito; que há um mundo ideal, modelar; e que esse mundo não é necessariamente intangível.) Disse-lhe, pois, dando-lhe de conselho, que acreditasse e fosse esperando. Que também eu acreditava e que também eu sentia a imensa tristeza da imperfeição quotidiana – e que também eu, portanto, esperava.
E pedi-lhe que subisse a escaleira. E entrámos em casa. E entrámos no quarto. E beijámo-nos. E concordámos que muito era insuficiente esta materialidade triste de nos beijarmos. E despimo-nos, depois, devagar, lamentando-nos de, enquanto mutuamente nos acariciávamos e lhe senti estremecer a pele, não haver uma luz que, de súbito, nos fizesse elevar e boiar na suprema espiritualidade do éter. Ela gemeu – um daqueles gemidos terrenos, materiais. E depois gritou: gritou de um prazer que ela sabia que não haveria de decorrer senão da incompletude. E gritou de novo. E amámo-nos na consciência de que não seria assim um amor perfeito e eterno.
E no entanto pareceu-me muito apaziguada, muita conciliada consigo mesmo – depois de repetirmos a sessão e a argumentação e de, ainda a tremer, ela se vestir de novo. Ora, nunca tive dúvidas que não há como discutir os problemas, dialogar, conversar, trocar ideias sobre os assuntos.
E pedi-lhe que subisse a escaleira. E entrámos em casa. E entrámos no quarto. E beijámo-nos. E concordámos que muito era insuficiente esta materialidade triste de nos beijarmos. E despimo-nos, depois, devagar, lamentando-nos de, enquanto mutuamente nos acariciávamos e lhe senti estremecer a pele, não haver uma luz que, de súbito, nos fizesse elevar e boiar na suprema espiritualidade do éter. Ela gemeu – um daqueles gemidos terrenos, materiais. E depois gritou: gritou de um prazer que ela sabia que não haveria de decorrer senão da incompletude. E gritou de novo. E amámo-nos na consciência de que não seria assim um amor perfeito e eterno.
E no entanto pareceu-me muito apaziguada, muita conciliada consigo mesmo – depois de repetirmos a sessão e a argumentação e de, ainda a tremer, ela se vestir de novo. Ora, nunca tive dúvidas que não há como discutir os problemas, dialogar, conversar, trocar ideias sobre os assuntos.
quinta-feira, junho 29, 2006
Cigarros
O amor conjugal já nem necessita da foda porque se têm, um e outro dos parceiros, um ao outro, seguros. É como quando estamos em casa, à noite, altas horas, sozinhos, e abundam as reservas de cigarros: o mais certo é que nem nos apeteça fumar, mas sentimo-nos confortados por saber que se nos apetecesse fumar tínhamos tabaco.
domingo, junho 25, 2006
A laustríbia
Desejo-te para que possa ser eu mesma. Imagino a tua pele - para que me seja mais fácil, mais verdadeiro, sentir verdadeiramente, um a um, todos os poros da minha pele. Para que tu e eu sejamos um quando me toco, sozinha, como se também tu estivesses presente nesta representação perfeita do amor.
O domínio
Custa-me, de súbito, respirar. Mas depois compreendo que os meus pulmões e a pele se misturam num exercício prodigioso onde o silêncio e a lava deixam de saber que papel representar - enquanto o desejo, mais que um diadema ou uma coroa de pérolas, impõe o seu domínio subtil.
Nos meus dentes
Quero, meu amor, como se chegasse de uma longa viagem pelo deserto, o teu caralho na minha boca, nos meus lábios, nos meus dentes de nácar.
Estar perto
Tenho um barco a remos. E sei que me amas porque sei que me esperas sabendo que estou longe mas que só as águas do mar, um Atlântico ridículo, nos separam.
sábado, junho 24, 2006
SMS
Mandas-me uma sms a dizer «que te apetecia tanto fazer-me um broche». E só eu sei que, como no poema do O’Neill, o que estás a dizer é «que tropeças de ternura por mim» - e que gostavas de me ter a teu lado a acariciar-te a curva vagarosa dos teus ombros.
quinta-feira, junho 22, 2006
Um gesto
Apetece-me, de novo, tocar-te. Olhar-lhe nos olhos e adivinhar, olhando-me, a tua surpresa de ser tão imenso o poder do teu corpo. E no entanto sei que mais uma vez me haverás de render à lentidão, ao silêncio, à ausência de movimento, à exasperante expectativa de um gesto.
terça-feira, junho 20, 2006
Que se o pedires
[poema apócrifo, um quanto totó, pseudo-modernista, sub-romântico]
Eu gosto do teu corpo porque é teu.
Eu gosto dos teus braços porque tu
é neles que me abraças tanto. E eu
quero é que me abraces: quero-te nu
só porque quero que me abraces tanto.
E quero-te só meu. Que sejas meu.
Que o ar que respirares, de eu te querer tanto,
nos una em ser de ti o que é já meu
e teu o que tu fores em mim: pois tudo
é pouco, sendo tanto, o que me deres.
Por isso permanece. Nunca mudes.
Que se o pedires eu mudo, se quiseres,
os meus piores defeitos em virtudes.
Porque por ti, amor, eu faço tudo.
Eu gosto do teu corpo porque é teu.
Eu gosto dos teus braços porque tu
é neles que me abraças tanto. E eu
quero é que me abraces: quero-te nu
só porque quero que me abraces tanto.
E quero-te só meu. Que sejas meu.
Que o ar que respirares, de eu te querer tanto,
nos una em ser de ti o que é já meu
e teu o que tu fores em mim: pois tudo
é pouco, sendo tanto, o que me deres.
Por isso permanece. Nunca mudes.
Que se o pedires eu mudo, se quiseres,
os meus piores defeitos em virtudes.
Porque por ti, amor, eu faço tudo.
quinta-feira, junho 15, 2006
A perplexidade
O que sobretudo me atrai em ti: a perplexidade: essa disponibilidade quase permanente para descobrires e aprenderes coisas novas: mesmo as que já sabes.
É só de mim...
Chega a dar-me prazer intuir no modo como me olhas a ilusão de que me dás prazer. Como se o prazer que sinto não fosse uma coisa de mim a mim mesma. Oh, se soubesses, meu amor, o quanto gosto de te trair comigo…
Como se o mundo
Às vezes é como se os mapas mentissem: como se não houvesse rios nem montanhas, como se não existissem florestas nem desertos, como se não existissem cidades ou como se em nenhuma cidade existissem ruas onde os autocarros pudessem circular de manhã a caminho dos empregos: como se o mundo fosses tu: como se tudo decorresse das tuas mãos erguendo-se, das veias salientes dos teus pulsos, de moveres as pálpebras ou ficares por um instante suspenso do rumor distante da tempestade. É isso que sinto no meu corpo: uma respiração que não é minha e que sobre todas as coisas me pertence: um estremecer da pele que só pode reverter do modo como respiras.
quinta-feira, maio 11, 2006
domingo, maio 07, 2006
O nome
A pobre da mocinha nunca deve ter percebido que lhe chamei «querida, oh, querida» porque naquelas alturas tem que se lhes chamar alguma coisa e eu tinha-me esquecido de lhe perguntar o nome.
Memória
Esta tão lenta, demorada aprendizagem do desejo: até que um corpo seja todo em si mesmo: a pele e a memória da pele que permanece além da memória do que num corpo reverte da sua implícita materialidade.
sábado, maio 06, 2006
O que verdadeiramente interessa
O que verdadeiramente interessa aconteceu até ao preciso momento em que toquei a alça do teu soutien e tu sorriste. Era uma noite de Inverno. Víamo-nos pela primeira vez. Isso a que designamos por «acaso», e tantas vezes confundimos com «Destino», levou a que nos sentássemos um ao lado do outro. Havia muita gente. E passou-se algum tempo até que trocássemos uma palavra: o empregado de mesa, um míope desajeitado (passe o pleonasmo), derramou um copo de vinho e tu disseste «é sinal de alegria». Olhei os teus olhos: vi essa luz: e ambos soubemos que o outro estremecia e que derramar vinho nas mesas não podia senão significar a felicidade.
Estava frio. No murete da rua quase deserta, junto ao tanque cuja água recordo como se acabasse agora de tocá-la, as nossas mãos, ausentes de nós, encontraram-se por um breve instante. E foi então que puxei a tua camisola e ergui a alça do teu soutien. E tu. Sorriste.
A noite acabou na cama, como nesse tempo acabavam ou começavam tantas vezes as noites do Inverno. Despiste-te muito devagar, puxaste-me com muita força contra o teu corpo, gritaste de prazer até que o vento, e a tempestade, e a sombra, se recolheram lá fora, algures, nas suas conchas de silêncio. Tenho uma memória vaga, sim, das tuas mamas orgulhosas, do teu sexo, das tuas pernas arrogantes e subitamente dóceis. Mas o que recordo verdadeiramente é o momento em que, num breve gesto, ergui a alça do teu soutien. E tu. Sorriste.
Quando agora, tantas vezes, tanto tempo depois, esgarço a piroca à procura do segredo sublime da Arte suprema da laustríbia, quando a esgaramanteio num labor dedicado de tentativa e erro, é isso apenas que recordo: antes da foda; antes do sexo: a sedução: o instante em que, num breve gesto, ergui a alça do teu soutien e tu sorriste.
Estava frio. No murete da rua quase deserta, junto ao tanque cuja água recordo como se acabasse agora de tocá-la, as nossas mãos, ausentes de nós, encontraram-se por um breve instante. E foi então que puxei a tua camisola e ergui a alça do teu soutien. E tu. Sorriste.
A noite acabou na cama, como nesse tempo acabavam ou começavam tantas vezes as noites do Inverno. Despiste-te muito devagar, puxaste-me com muita força contra o teu corpo, gritaste de prazer até que o vento, e a tempestade, e a sombra, se recolheram lá fora, algures, nas suas conchas de silêncio. Tenho uma memória vaga, sim, das tuas mamas orgulhosas, do teu sexo, das tuas pernas arrogantes e subitamente dóceis. Mas o que recordo verdadeiramente é o momento em que, num breve gesto, ergui a alça do teu soutien. E tu. Sorriste.
Quando agora, tantas vezes, tanto tempo depois, esgarço a piroca à procura do segredo sublime da Arte suprema da laustríbia, quando a esgaramanteio num labor dedicado de tentativa e erro, é isso apenas que recordo: antes da foda; antes do sexo: a sedução: o instante em que, num breve gesto, ergui a alça do teu soutien e tu sorriste.
segunda-feira, maio 01, 2006
[Sim, o amor é fodido]
Dos homens já não espero mais que o sexo, a promessa do amor, as flores ridículas da Romeira Roma remetidas com endereço, o convite para um burlesco jantar cerimonial de sushi. E é um pau.
E no entanto... E no entanto a verdade é que às vezes ainda te sonho capaz de só poisares as tuas mãos nos meus ombros, de teres uma palavra indecisa entre a ternura e a mágoa, de foderes comigo como se uma parte de ti me passasse a pertencer para sempre...
Bem vês: a ilusão do amor permanece para além das evidências, para além das sucessivas, irredutíveis demonstrações do desencanto.
E no entanto... E no entanto a verdade é que às vezes ainda te sonho capaz de só poisares as tuas mãos nos meus ombros, de teres uma palavra indecisa entre a ternura e a mágoa, de foderes comigo como se uma parte de ti me passasse a pertencer para sempre...
Bem vês: a ilusão do amor permanece para além das evidências, para além das sucessivas, irredutíveis demonstrações do desencanto.
A ternura
Quando to encabava, e enquanto guinchavas, eu imaginava já o prazer verdadeiro da laustríbia futura em memória das tuas coxas que devem ser de primeira se não estivermos obrigados ao ridículo de, em tempo real, escutando os ladridos, ter que acariciá-las e gabá-las para que te venhas mais depressa ou me aches capaz de um gesto de ternura.