quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Mais política

As generalizações são como as sondagens: valem o que valem. Ora acontece que as sondagens parecem valer um bocadinho mais do que pensava quem se preparava já para meter em Tribunal as Empresas da especialidade à mor dos seus putativos erros grosseiros; Empresas que afinal viriam a acertar em cheio nas previsões. Ora, aqui na Fénix, numa altura em que os sociais democratas levam pancada a torto e à direita, não ficávamos de bem com a nossa consciência se não déssemos um passo em frente em defesa das laranjinhas. As meninas do PSD (sim, as generalizações valem o que valem) são as mais interessantes do universo feminino. E quem o garante está aqui, que durante os dois últimos anos se meteu ao estudo do fenómeno em rigoroso e esforçado trabalho de campo. Com afinco, acrescente-se, o que não é dizer pouco.

Certo que mal iria o mundo se ficássemos à espera que fossem elas a mover os eixos em que ele, o mundo, se sustenta: não se pode dizer, por exemplo, que a solidariedade lhes seja um valor muito caro (nisso ninguém leva a palma às comunistas e às meninas do CDS) ou que elejam como especial prioridade a luta contra as desigualdades sociais; embora se comovam com a pobreza, e achem que alguém devia tratar dos pobres e dar-lhes de comer e isso...

Em contrapartida, estudam; ao invés de lutarem contra o sistema e distribuírem panfletos na Faculdade de Letras, esmeram-se em tirar um curso à Universidade; e não andam em comício a exigir emprego para os recém licenciados: chegam à empresa e falam directamente com o tio. Isto parece pouco, contado deste modo prosaico – mas o país avançava, sim, e acabavam-se as discussões sobre o pacto de estabilidade. Porque há nelas, digamos, uma espécie de inata capacidade de gerir, de mandar. E do que a gente precisa é de quem mande; que quem-manda-manda-bem. O resto são inconsequentes, posto que espalhafatosas, acções de rua.

Depois – são desarmantes. Na praia, por exemplo, vi uma jotinha chegar tarde para o almoço do grupo (as jotinhas acham que a pontualidade é coisa de pobre) e perguntar à amiga do PS, com dois pneus (esta) salientes abaixo do umbigo e atarefada com a feijoada de buzinas: «não me diga que hoje não há salada tropical, querida». E só depois se sentou, boa como o milho, descendo por instantes, no movimento displicente, o decote rasgado.

Ora isto é ter estrangeirinha. Como é ter estrangeirinha, numa discussão sobre o Chomsky em que uma militante do Bloco de Esquerda perorava a respeito do imperialismo americano e assegurava que o capitalismo neoliberal era o pior dos inimigos do povo – entrar assim na conversa: «oh, também adoro o Chomsky. Estavam a falar do problema das gramáticas sensíveis ao contexto? É que ando a ler O Conhecimento da Língua – sua Natureza, Origem e Uso. Não sei se estão de acordo, mas como revolucionário acho que não há melhor linguista...»