domingo, fevereiro 13, 2005

Esse lume

Nunca compreenderás. Era-me insuportável representar o papel da menina do coro. Eu queria era ser a tua puta. A puta que apalpasses nos restaurantes. A puta a quem mandasses bocas foleiras. A puta onde te viesses aos berros a dizer «oh minha granda filha da puta». Às vezes, quando adormecias depois de fazermos amor, eu saía da cama, abria a portada e ficava na varanda a olhar a noite, a olhar o céu, até que uma estrela cadente poisasse nas minhas mãos ainda indecisas. Depois, com esse lume nos dedos, regressava à cama. E só então me vinha. Enquanto dormias. Sem que a luz dos cometas, incendiando as paredes do quarto, te pudesse sobressaltar. Como se fosse obrigada a ser a puta de mim mesma.