terça-feira, fevereiro 01, 2005

O tempo

Às vezes interrogávamo-nos se era o tempo que passava por nós
ou se pelo contrário éramos nós que passávamos pelo tempo.
Como se os automóveis que paravam nos semáforos
e depois arrancavam a grande velocidade
deixando atrás de si as nuvens de fumo que ficavam agarradas às paredes dos prédios
fossem os mesmos automóveis que um dia pararam nos semáforos
e depois arrancaram a grande velocidade
deixando atrás de si as nuvens de fumo que ficavam agarradas às paredes dos prédios.
Como se as folhas do Outono espalhadas no chão das alamedas
fossem as folhas de um Outono antigo
que já tinham caído no chão das alamedas
num Outono mais antigo ainda.

Hoje sabemos apenas que nenhum milagre se repete
depois de rasgarmos os Selos
e que o desejo estilhaça a espiral abstracta da idade.