quinta-feira, janeiro 27, 2005

O Erro de Damásio (2)

Sim, António Damásio demonstra que pensamos na medida em que existimos. Mas vai mais longe. E insiste que « pensamos na medida em que existimos». O «só» fodeu tudo.

Vamos por partes. Tocar uma pívia é uma resposta ao desejo (enfim, a todos calha...): é certo que o gaiato da pívia automática só pensa porque existe, só a estiva porque um neurotransmissor ou uma comichão nos tomates o impelem à punheta; sucumbe, já se vê, ao peso da hormona, à albarda do glutamato. A lição de Damásio serve a este exemplo.

Acontece que o cultor da suprema Arte da laustríbia deseja o desejo; e sabe – como Descartes ensinou – que o pensar ou o desejar podem desligar-se da matéria.

Claro que um corpo é sempre o objecto do desejo. O corpo corpóreo? Sim. Mas sabemos também que nos é dado pensar e desejar para além da opressão da oxitocina e da pulsão do cio

– e ambicionar num corpo a sua mais pura imaterialidade.