segunda-feira, janeiro 17, 2005

Poderosa vaga

Acaricias-te (os vidros duplos nas janelas, os cortinados corridos, a sombra poisada nas paredes e no soalho do quarto) numa muito leve espiral. Crescendo. Poderosa vaga. Até à vertigem e ao silêncio. E é então que páras por um momento breve (o lume da cona ainda nos dedos) com medo que a hélice do prazer desancadeie uma tempestade nas montanhas que descem para a cidade, ou as águas subam até aos telhados das casas, ou o fogo se propague nas árvores das alamedas e das praças, ou o granizo derrube os muros mais altos das propriedades, ou uma erupção de lítio misture na cinza do inverno a sua labareda incandescente.