In the mood for love (1)
Os nossos críticos de cinema, metendo sexo ou beijinho, são logo muito lampeiros na taxonomia: filme pornográfico se a foda é escancarada, erótico se a cavalheira esconde menos de metade das mamas com o lençol providencial e ele é filmado do umbigo para cima e dos joelhos para baixo, comédia romântica quando a foda – geralmente num apartamento com decoração minimalista e largas janelas envidraçadas contra as luzes da cidade – é precedida dum encontro fortuito na vernissage duma exposição de pintura abstracta. Nisso – na taxonomia – são eles muito lampeiros, sim. O pior é quando se lhes depara uma obra ímpar em que ninguém rebola na cama, em que nenhuma menina se deita de costas num divã ou sobre uma alcatifa vermelha a puxar a saia até ao pescoço enquanto começa a chiar, quando não há encabadelas explícitas nem implícita lambidela, quando, enfim, ninguém se entretém na retoiça, de cuecas nos tornozelos, entre risinhos cúmplices e comentários eruditos sobre a obra de Rothko ou a passagem do tempo no primeiro capítulo de Light in August; E NO ENTANTO, e no entanto o desejo irrompe, avança em vagas sucessivas, devasta, sufoca, dilacera. É o que acontece com In the mood for love, de Wong Kar-wai. Aí os críticos tropeçaram, inventaram, escreveram – muito confusos, coitados – sobre «intenso erotismo», «amor que não se consuma», «dolorosa comunhão»; e ei-los, de súbito já sem a vocação de Lineu para catalogar e arrumar a peça em gavetas de ocasião – à nora, em palpos de aranha, fodidos da vida...
Não admira: In the mood for love é um filme (apetece dizer O filme) sobre a punheta, sobre a Arte sublime da laustríbia. Eu peço desculpa, mas isto é preciso que se diga.
Não admira: In the mood for love é um filme (apetece dizer O filme) sobre a punheta, sobre a Arte sublime da laustríbia. Eu peço desculpa, mas isto é preciso que se diga.
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