O filme
Charlotte, nos últimos tempos, acordou como Jamie-Lynn Sigler (a Meadow da série Sopranos), como Brooke Shields, como Elizabeth Taylor e como Anita Ekberg. Por aqui, na Seita de Fénix, como é que vemos o filme?
Vamos por partes: Jamie-Lynn é o sonho de qualquer piveteiro. Sobretudo do sectário daquela fase intermédia a quem o desejo chega em cascata, avassalador - mas não ainda o rigor, a pulsão, o domínio. Não admira: olha-se a mocinha e vê-se que tem o vício da mãe; mas menos pressa de regressar a casa, ignorante ainda da ideia de contrato social; e a salvo, portanto, do desassossego do sentimento de culpa. Depois o modo como ela nos olha: com aquela expressãozinha de quem lhe puxa a retoiça; o corpo ligeiramente dobrado numa pose de espera; as mãozinhas munificentes, dadivosas, laivosas. Aquilo, num rapaz ainda às voltas com a dermatologia, é pívia mais que de imediata - e desculpa-se: não quer dizer que o gaiato esteja perdido para a Arte - é só da idade.
Depois a Brooke Shields: ora aqui está um imbróglio: a rapariga é bonita; é sensual; tem uma boquinha apetitosa, de polpa saliente, equilibrada; uns olhos ligeiramente rasgados; falta-lhe o quê? Pois falta-lhe tudo: falta-lhe o sal e falta-lhe o carácter, a borga e a rareza, a singularidade e o bródio - enfim: falta-lhe estrangeirinha. A Brooke, sim, será o sonho dum putanheiro até à sétima casa que ande a pensar no desposório e à procura de mãe para os seus filhos; e o sonho, também, da mamã do putanheiro, a imaginá-la já nos serões do Inverno a discorrer filosoficamente sobre a destemperança e a perdição: «Fumar mata e, quando se morre, perdemos uma parte muito importante da nossa vida.» Agora de resto, não: aposta-se dobrado contra singelo em como não houve sectário que desse ao hidráulico a pensar na inocente: é que se olha o retrato da jovem, fecha-se os olhos - e o mais erótico que a gente lobriga é um padre ou uma sogra a atar-nos um lacinho na piroca.
Quanto à Elizabeth Taylor - está-se mesmo a ver: é o devaneio de qualquer gaioleiro que se preze; desses que nunca foram tocados verdadeiramente pelo desejo, mas apenas pelo estrago e pela depravação balofa; desses para quem são muito ténues as fronteiras entre foder e levar no cu; desses que, tendo passado directamente da fase da pívia para a da gaiola (ou nem tendo verdadeiramente chegado a esgarçar o mangalho, mas apenas a adular o ceguinho), celebram a lantejoula, a cintilação, a meiazinha de vidro, a celerada elegância dos «salões». A maior fantasia destes gaioleiros era uma indigitação para receber a Elisabet Taylor na sala VIP do aeroporto da Portela e levá-la a conhecer a cidade - os Jerónimos, o Tejo, Alfama, Madragoa– acabando a noite numa casa de fado castiço.
A Anita Ekberg - desculpem: o que seria de Fellini sem a Anita a mergulhar na fonte de Nicola Salvi? O que seria do mundo sem as suas mamas, a um tempo sobranceiras, afoitas, acomodadas, áticas? O que seria da Arte suprema do esgarçanço sem o seu olhar desprotegido, sem os seus olhos infinitos, sem os seus ombros nus? (S i l ê n c i o . . .)
Vamos por partes: Jamie-Lynn é o sonho de qualquer piveteiro. Sobretudo do sectário daquela fase intermédia a quem o desejo chega em cascata, avassalador - mas não ainda o rigor, a pulsão, o domínio. Não admira: olha-se a mocinha e vê-se que tem o vício da mãe; mas menos pressa de regressar a casa, ignorante ainda da ideia de contrato social; e a salvo, portanto, do desassossego do sentimento de culpa. Depois o modo como ela nos olha: com aquela expressãozinha de quem lhe puxa a retoiça; o corpo ligeiramente dobrado numa pose de espera; as mãozinhas munificentes, dadivosas, laivosas. Aquilo, num rapaz ainda às voltas com a dermatologia, é pívia mais que de imediata - e desculpa-se: não quer dizer que o gaiato esteja perdido para a Arte - é só da idade.
Depois a Brooke Shields: ora aqui está um imbróglio: a rapariga é bonita; é sensual; tem uma boquinha apetitosa, de polpa saliente, equilibrada; uns olhos ligeiramente rasgados; falta-lhe o quê? Pois falta-lhe tudo: falta-lhe o sal e falta-lhe o carácter, a borga e a rareza, a singularidade e o bródio - enfim: falta-lhe estrangeirinha. A Brooke, sim, será o sonho dum putanheiro até à sétima casa que ande a pensar no desposório e à procura de mãe para os seus filhos; e o sonho, também, da mamã do putanheiro, a imaginá-la já nos serões do Inverno a discorrer filosoficamente sobre a destemperança e a perdição: «Fumar mata e, quando se morre, perdemos uma parte muito importante da nossa vida.» Agora de resto, não: aposta-se dobrado contra singelo em como não houve sectário que desse ao hidráulico a pensar na inocente: é que se olha o retrato da jovem, fecha-se os olhos - e o mais erótico que a gente lobriga é um padre ou uma sogra a atar-nos um lacinho na piroca.
Quanto à Elizabeth Taylor - está-se mesmo a ver: é o devaneio de qualquer gaioleiro que se preze; desses que nunca foram tocados verdadeiramente pelo desejo, mas apenas pelo estrago e pela depravação balofa; desses para quem são muito ténues as fronteiras entre foder e levar no cu; desses que, tendo passado directamente da fase da pívia para a da gaiola (ou nem tendo verdadeiramente chegado a esgarçar o mangalho, mas apenas a adular o ceguinho), celebram a lantejoula, a cintilação, a meiazinha de vidro, a celerada elegância dos «salões». A maior fantasia destes gaioleiros era uma indigitação para receber a Elisabet Taylor na sala VIP do aeroporto da Portela e levá-la a conhecer a cidade - os Jerónimos, o Tejo, Alfama, Madragoa– acabando a noite numa casa de fado castiço.
A Anita Ekberg - desculpem: o que seria de Fellini sem a Anita a mergulhar na fonte de Nicola Salvi? O que seria do mundo sem as suas mamas, a um tempo sobranceiras, afoitas, acomodadas, áticas? O que seria da Arte suprema do esgarçanço sem o seu olhar desprotegido, sem os seus olhos infinitos, sem os seus ombros nus? (S i l ê n c i o . . .)
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