segunda-feira, dezembro 20, 2004

O tempo, 1

Claro que é isso que procuramos todos. Desde sempre: o instante que se multiplica indefinidamente, o instante que se repete apenas em si mesmo, o instante que não se repete senão nas suas próprias frases. Que outra coisa é, senão isso (senão essa procura infinita), a Arte sublime, subtil, do esgarçanço?

A Senhora de T. (cf. Milan Kundera, A Lentidão, ed. ASA, 1995) conhecia O Segredo (ela que, supostamente – embora não exista nenhuma descrição que nos possa confirmá-lo – teria uma conformação rotunda, já que «a rotundidade do corpo faz nascer a rotundidade e a lentidão dos movimentos e dos gestos»).

Ela sabia: que não há outro desígnio que o da procura do instante em que o mundo e o tempo deixam de coincidir.