domingo, dezembro 19, 2004

Tu sabes

Estranho. Juro. Chego a acreditar que nunca partiste. Que todos os dias oiço os teus passos, vagarosos, leves, a atravessar o pátio. Que todos os dias a tua sombra se desenha na parede da sala, a meio da manhã, quando a luz do inverno, esta luz magoada, atravessa a janela e fica assim por instantes, meu amor, poisada nos teus ombros. É estranho. Juro. É como se nunca tivesses partido. Ou, enfim, como se regressasses todos os dias. Como se todos os dias, durante todo este tempo, nos tivéssemos tocado, como se todos os dias te tivesse fodido (e foder é dizer pouco - o esgarçanço é uma forma superior de amar; tu sabes). Por isso fico aterrorizado com o teu mail. Como é possível anunciares a tua chegada depois de «uma tão prolongada ausência» se, na verdade, não chegámos nunca a separar-nos? Eu tive-te sempre, meu amor, nas minhas mãos. Juro. Eu tive todos os dias nas minhas mãos o calor, a textura da tua pele (tu sabes).