sexta-feira, dezembro 17, 2004

Médium

Ah, duvido, permitam-me duvidar que o Camilo fosse o fodilhão que dizem. Certo que o femeaço o deixava tolo. Certo que fodeu muito. Certo que levou pancada da grossa, de pau de marmeleiro ou de lódão, em quanta feira ou festividade religiosa frequentou no Minho e Trás-os-Montes - sempre muito atreito, o marmanjo, a desencaminhar as senhoras enquanto os maridos, inchados (é um supor - esta deu-se em Amarante) passeavam a cavalo ao som das cavalhadas do coração de Maria. Certo, muito certo. Mas a Camilo interessava-lhe, acima de tudo, a Suprema Arte do esgarçanço. Por isso seduzia (fodendo, claro, se necessário fosse para seduzir ou assim viesse de feitio): porque não é possível esgaramantear o mangalho quando não seduzimos, quando não sabemos, quando não temos a certeza que alguém nos deseja.

De resto, sabe-se o que Camilo Castelo Branco achava do contacto com um corpo, do asco que lhe produzia a materialidade rasteira dos corpos. E percebe-se, pois, que o usasse (ao feminino corpo) como meio, meio privilegiado, para arremangar a estultícia. Olhem só este excerto, vá, estejam atentos: «Sou tão avesso, e tamanho asco tenho a beijos, como aquele frade da mesa censória, que mandava riscar beijo, e escrever ósculo. Os teólogos casuístas, e nomeadamente S. Afonso Maria de Ligório, conjuram unânimes contra o beijo, inscrevendo-o no catálogo das desonestidades. Não digo tanto. Entendo que beijo pode ser acto inocente, mas não pode ser nunca limpo e asseado. É um contacto de extrema materialidade, com toda a sua grosseria corpórea» (cf. Memórias do Cárcere, Publicações Europa-América, s/d).

Ah, pois é... Descansem que não deixaremos de nos vir aqui com mais, com bastos exemplos da tese...