Ver nascer um Ídolo
A Kátia é irmã do Cristiano Ronaldo. A Kátia vai lançar um CD. A Kátia, não contente com o fabuloso nome de baptismo, escolheu um nome artístico mais adequado à dilatação da mensagem. Escolheu bem. A mocinha vai longe. Agora chama-se Ronalda. Ronalda: é assim que o seu nome vai aparecer na capa do CD.
A Kátia (perdão: a Ronalda) acha que «desde que sejamos humildes, as coisas correm bem». Acha bem. Ela sabe que o povo português se derrete com os humildes. Ela sabe que a humildade lhe desculpará toda a falta de talento. O bom povo português estará sempre disponível para protegê-la do mundo. Sobretudo se ela, acrescidamente, se confessar frágil, se mostrar desprotegida. Ela sabe. Por isso acrescenta, antecipativa: «Sou assumidamente romântica». Também lá está, na cartilha: Ronalda deve sempre asseverar que acredita no amor, que se deixa levar pelos seus sentimentos puros. É meio caminho andado.
Depois, Ronalda deve ter um projecto. O projecto está para a música pimba como o grupo de trabalho está para o futebol do empata. Uma equipa acaba de levar três batatas. Um jogador com o cabelo comprido e depois apanhado por um elástico da Nike, chamado a comentar a partida, garante: «o grupo de trabalho está unido, e isso é o mais importante». Os adeptos desculpam, compreendem: o importante é que o grupo de trabalho se mantenha coeso em redor do projecto. Por isso mesmo, ternurenta, Ronalda garante: «Adoro cantar e entreguei-me de corpo e alma a este projecto». A mocinha vai longe. Um destes dias, num dos programas televisivos da manhã, o Goucha, ou a Fátima Lopes, dirão: «Ronalda: vê-se que você se entregou de corpo e alma a este projecto». O bom povo português não disfarçará uma lágrima a correr pelo canto do olho. O bom povo português adora as mocinhas humildes e românticas que se entregam de corpo e alma a um projecto.
Agora só é preciso que as letras sejam verdadeiramente execráveis. Essa é a última chave do sucesso. Convém que as músicas de Ronalda falem (a gramática coxeante) da traição que se perdoa, da mentira que se desculpa, da deslealdade que se absolve em nome do amor. Pela amostra (cf. entrevista ao suplemento Vidas, do Correio da Manhã), também por aí haveremos de estar descansados. Eis:
«Mentiroso tens outra mas tu negas
e como fui tão cega em ti acreditar
vais dizer a verdade e tens que ter coragem
para me enfrentar.»
Ou:
«Parte de mim já te esqueceu
mas sou ainda tua
sei que para ti o amor morreu
mas para mim continua.»
Ou ainda:
«Estou só e perdida
mas pronta para te amar
estou só e perdida
mas quero-te outra vez
e mesmo traída
estou pronta para te ver.»
Esta Ronalda promete. O panorama artístico português vai de vento em popa. E saber-se que há ainda quem fale mal, quem não acredite, quem não vislumbre. Foda-se, já é cisma...
A Kátia (perdão: a Ronalda) acha que «desde que sejamos humildes, as coisas correm bem». Acha bem. Ela sabe que o povo português se derrete com os humildes. Ela sabe que a humildade lhe desculpará toda a falta de talento. O bom povo português estará sempre disponível para protegê-la do mundo. Sobretudo se ela, acrescidamente, se confessar frágil, se mostrar desprotegida. Ela sabe. Por isso acrescenta, antecipativa: «Sou assumidamente romântica». Também lá está, na cartilha: Ronalda deve sempre asseverar que acredita no amor, que se deixa levar pelos seus sentimentos puros. É meio caminho andado.
Depois, Ronalda deve ter um projecto. O projecto está para a música pimba como o grupo de trabalho está para o futebol do empata. Uma equipa acaba de levar três batatas. Um jogador com o cabelo comprido e depois apanhado por um elástico da Nike, chamado a comentar a partida, garante: «o grupo de trabalho está unido, e isso é o mais importante». Os adeptos desculpam, compreendem: o importante é que o grupo de trabalho se mantenha coeso em redor do projecto. Por isso mesmo, ternurenta, Ronalda garante: «Adoro cantar e entreguei-me de corpo e alma a este projecto». A mocinha vai longe. Um destes dias, num dos programas televisivos da manhã, o Goucha, ou a Fátima Lopes, dirão: «Ronalda: vê-se que você se entregou de corpo e alma a este projecto». O bom povo português não disfarçará uma lágrima a correr pelo canto do olho. O bom povo português adora as mocinhas humildes e românticas que se entregam de corpo e alma a um projecto.
Agora só é preciso que as letras sejam verdadeiramente execráveis. Essa é a última chave do sucesso. Convém que as músicas de Ronalda falem (a gramática coxeante) da traição que se perdoa, da mentira que se desculpa, da deslealdade que se absolve em nome do amor. Pela amostra (cf. entrevista ao suplemento Vidas, do Correio da Manhã), também por aí haveremos de estar descansados. Eis:
«Mentiroso tens outra mas tu negas
e como fui tão cega em ti acreditar
vais dizer a verdade e tens que ter coragem
para me enfrentar.»
Ou:
«Parte de mim já te esqueceu
mas sou ainda tua
sei que para ti o amor morreu
mas para mim continua.»
Ou ainda:
«Estou só e perdida
mas pronta para te amar
estou só e perdida
mas quero-te outra vez
e mesmo traída
estou pronta para te ver.»
Esta Ronalda promete. O panorama artístico português vai de vento em popa. E saber-se que há ainda quem fale mal, quem não acredite, quem não vislumbre. Foda-se, já é cisma...
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