O que nos une
Os Cultores do Segredo espalham-se pela orbe em número virtualmente infinito. Quando assistimos a um jogo de futebol, quando nos sentamos na cadeira de um teatro, quando vamos às compras, percorre-nos sempre essa estranha sensação de sabermos, olhando os jogadores que se movimentam no relvado, os espectadores que aguardam o início da peça sentados na plateia, as senhoras que aguardam na fila para a caixa registadora, que essa coisa nos une, embora um código antigo nos impeça de confessá-lo: pertencemos todos à Seita de Fénix. Temos opiniões diferentes sobre a reeleição de Bush ou a pintura de Júlio Pomar, reagimos de modo diverso às notícias sobre o estado de segurança dos túneis ferroviários, toca-nos com intensidade diferente a audição de um Requiem: e no entanto – num saguão, numa casa de banho, numa ruína, num bosque, numa varanda nocturna – um mesmo afã nos uniu uma ou repetidas vezes enquanto executávamos – anonimamente – o sagrado rito.
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