O caminho certo
A masturbação liberta-nos do que no corpo é peso excessivo, do que na matéria não é ainda volátil. Por isso não é uma substituição ou um recurso, mas um outro lugar onde a luz não está ainda (ou já não está) contaminada pelas suas próprias sombras. Kundera, em A Insustentável Leveza do Ser (Publicações D. Quixote) descreve-nos uma experiência em que esta possibilidade é intuída. Dum modo ainda impreciso, é certo («à beira do sono, no espaço encantado das visões confusas»), mas no caminho certo. Vejamos: «convenceu-se que acabara de descobrir a solução de todos os enigmas, a chave do mistério, uma nova utopia, o Paraíso: um mundo em que se fica em erecção por ver uma andorinha e onde é possível amar Tereza sem ser importunado pela estupidez agressiva da sexualidade».
Está quase lá. Mas isto, claro (mesmo descontando a simplicidade da metáfora), não é «por ver uma andorinha»: exige dedicação, treino intenso e um poder de abstracção que, não obstante o esforço despendido, muitos não chegam nunca a alcançar.
Está quase lá. Mas isto, claro (mesmo descontando a simplicidade da metáfora), não é «por ver uma andorinha»: exige dedicação, treino intenso e um poder de abstracção que, não obstante o esforço despendido, muitos não chegam nunca a alcançar.
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