quinta-feira, outubro 21, 2004

A memória infernal

«Uma noite. Ela pergunta-lhe se ele podia fazer aquilo com a mão, sem ser preciso aproximar-se dela, sem sequer a olhar.
Ele diz que não pode. Não pode fazer nada de parecido com uma mulher. Não consegue chegar a dizer o efeito que lhe provoca aquele pedido da parte dela. Se aceitasse, arriscar-se-ia a nunca mais querer vê-la, nunca mais, e mesmo talvez a fazer-lhe mal. Teria de abandonar o quarto, esquecê-la. Ela diz que é o contrário, que ela não pode esquecê-lo. Que a partir do momento em que não se passa nada entre eles, fica a memória infernal daquilo que não acontece.»

[Marguerite Duras, in Olhos Azuis, Cabelo Preto, ed. PÚBLICO]