Olha o gaioleiro
É conhecida a nossa indiferença (o nosso, enfim, pouco apreço intelectual) pela pívia e pela gaiola. Nada de ressentimentos ou más consciências: é apenas porque os piveteiros e os gaioleiros não aspiram à Arte, agarrados que estão, em ambos os casos, ao peso da materialidade mais rasteira.
Corrija-se: os piveteiros ainda estão agarrados ao corpo – náo é grave. Muitas vezes trata-se de um estádio transitório e muitos dos sectários evoluirão a prazo para o esgarçanço e para a suprema Arte. Quanto aos gaioleiros é que não há nada a fazer: nunca desunharam uma pívia – ou, quando, muito, passaram de imediato da fase da pívia (onde se detiveram por logros que seria agora ocioso explicar) para a fase da gaiola. E daí ninguém regressa.
Ora é preciso esclarecer que a etimologia do gaioleiro não está directamente relacionada com a ideia de jaula ou cárcere. Em boa verdade, daí decorre por via indirecta.
Então é assim: «tocar uma gaiola» (ou, mesmo, «fazer uma gaiola») é uma expressão que se começa a vulgarizar em finais do século XIX, e designa, inicialmente, a prática da masturbação enquanto mecanismo de substituição do sexo; por razões de contiguidade sociológica (fiquem os termos: não se pode explicar tudo duma vez tintim por tintim), o «gaioleiro» passou a ser acrescidamente conhecido como aquele que, nos espaços do humilde masturbo, levava no cu. A vulgarização do termo tem raiz territorial nas zonas de expansão urbana da cidade de Lisboa que ocorrem entre inícios do último quartel do século XIX e finais do primeiro quartel do século XX, estando associada, em termos urbanísticos, aos chamados «prédios de rendimento» implantados em particular nos eixos das Avenidas de Ressano Garcia e AlmiranteReis. Aliás, ainda hoje esses prédios (uma espécie de pré habitação social) são designados por «gaioleiros».
Não estão devidamente clarificados os aspectos que se prendem com as formas de contaminação linguística. A questão é simples, e portanto complexa: por um lado, os prédios são assim designados em resultado do elevado índice de «gaioleiros» que albergavam; por outro lado, os «gaioleiros» são assim designados em resultado do nome atribuído aos prédios «de rendimento» que habitavam...
Seja como for, a degradação (física e espiritual), o abandono e a ruína, são aspectos comuns a ambos os conceitos. E ainda hoje, de alguém que vive ali pela Almirante Reis, é costume dizer-se: olha o gaioleiro...
Corrija-se: os piveteiros ainda estão agarrados ao corpo – náo é grave. Muitas vezes trata-se de um estádio transitório e muitos dos sectários evoluirão a prazo para o esgarçanço e para a suprema Arte. Quanto aos gaioleiros é que não há nada a fazer: nunca desunharam uma pívia – ou, quando, muito, passaram de imediato da fase da pívia (onde se detiveram por logros que seria agora ocioso explicar) para a fase da gaiola. E daí ninguém regressa.
Ora é preciso esclarecer que a etimologia do gaioleiro não está directamente relacionada com a ideia de jaula ou cárcere. Em boa verdade, daí decorre por via indirecta.
Então é assim: «tocar uma gaiola» (ou, mesmo, «fazer uma gaiola») é uma expressão que se começa a vulgarizar em finais do século XIX, e designa, inicialmente, a prática da masturbação enquanto mecanismo de substituição do sexo; por razões de contiguidade sociológica (fiquem os termos: não se pode explicar tudo duma vez tintim por tintim), o «gaioleiro» passou a ser acrescidamente conhecido como aquele que, nos espaços do humilde masturbo, levava no cu. A vulgarização do termo tem raiz territorial nas zonas de expansão urbana da cidade de Lisboa que ocorrem entre inícios do último quartel do século XIX e finais do primeiro quartel do século XX, estando associada, em termos urbanísticos, aos chamados «prédios de rendimento» implantados em particular nos eixos das Avenidas de Ressano Garcia e AlmiranteReis. Aliás, ainda hoje esses prédios (uma espécie de pré habitação social) são designados por «gaioleiros».
Não estão devidamente clarificados os aspectos que se prendem com as formas de contaminação linguística. A questão é simples, e portanto complexa: por um lado, os prédios são assim designados em resultado do elevado índice de «gaioleiros» que albergavam; por outro lado, os «gaioleiros» são assim designados em resultado do nome atribuído aos prédios «de rendimento» que habitavam...
Seja como for, a degradação (física e espiritual), o abandono e a ruína, são aspectos comuns a ambos os conceitos. E ainda hoje, de alguém que vive ali pela Almirante Reis, é costume dizer-se: olha o gaioleiro...
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