terça-feira, novembro 23, 2004

O Aleph, 2

para a Lucia-Fera

O Aleph é um ponto que contém todos os pontos. Borges e Carlos Argentino Daneri viram o Aleph – ou seja, «o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos». Mas a velha casa da rua Garay foi demolida no século passado, no início da década de quarenta. É improvável, pois, que a mais alguém seja dado ver o Aleph (não obstante as provas de que existirá um Aleph no interior de uma das colunas de pedra da mesquita de Amr, no Cairo) .

Mas os cultores do Segredo (alguns, raros) conhecem o Tlazolteotl (termo de obscura origem azteca), que em certos aspectos apresenta semelhanças com o conceito de Aleph: o Tlazolteotl corresponde ao instante em que, durante o esgarçanço, sentimos que todas as mulheres do mundo nos pertencem. Existem poucas descrições desse instante mágico, como é óbvio: poucos o atingiram verdadeiramente. Mas sabe-se que quem atingiu o Tlazolteotl deixa de pertencer à Seita de Fénix: porque nesse instante, nesse momento único e irrepetível, possuímos todas as mulheres do mundo: a partir daí não nos é dado o dom do sobressalto e do êxtase, pela simples razão de que tivemos nas mãos (isto é um modo de dizer...) O sobressalto e O êxtase.

Compreender-se-á, pois, que há quem passe uma vida inteira à procura do Tlazolteotl (o nosso Aleph) - e, simultaneamente, tema encontrá-lo...