quinta-feira, março 10, 2005

Delgado

Fez muita espécie a muita gente o elogio de Agustina a Santana Lopes: que ele era «um homem comum». Ora: são exactamente os homens comuns, e as mulheres comuns, que fazem andar o mundo nos seus eixos: as donas de casa, o electricista, o técnico superior de segunda classe, o medidor-orçamentista, o presidente de Câmara dedicado e intranquilo, o obscuro escrivão que passa os dias enrolado em papelada e um bocado de noite na gaiola, a mulher a dias, o estafeta, o secretário de Estado com sentido de serviço público, posto que cinzentão e avesso à primeira página e ao retrato na revista do enconanço – são eles, são elas, anónimos as mais das vezes, que fazem o mundo avançar – eles, os homens comuns, elas, as mulheres comuns. E depois há os génios – John Nash, Mourinho, Joyce, Beckham, Einstein, Luís Delgado, Bush, Louçã, Manuel Monteiro... Se o mundo dependesse deles, dos génios, estávamos quilhados – e o mais certo era que amanhã de manhã não houvesse pão à venda na padaria do meu bairro.