Se o desejo irrompe, 1
Topámo-nos assim com a certeza de que estava ausente de nós a premeditação: as nossas mãos acariciando-se como se elas próprias concluíssem que era tempo de se tocarem, uma procurando a outra ausentes do que decidíssemos. Por isso, claro, esse espanto sem jogo nem estrangeirinha, esse espanto em estado ainda puro, quando nos olhámos, rosto no rosto, olhos nos olhos, rendidos à evidência de que o desejo nos escolhera e que, antes de sermos cúmplices um do outro, éramos sobretudo vítimas. Tocados por ele, o desejo, e não tocados pelas mãos um do outro; o desejo procurando-nos mais do que procurarmos a pele, um corpo pressentido.
Tenho ainda, tantas horas depois, os teus dedos nos meus dedos: o mesmo lume, a mesma água evaporada dos obscuros subterrâneos: e a certeza de que não procurámos nada, de que fomos apenas vítimas, de que, num certo sentido, não poderia ser de outro modo.
Tenho ainda, tantas horas depois, os teus dedos nos meus dedos: o mesmo lume, a mesma água evaporada dos obscuros subterrâneos: e a certeza de que não procurámos nada, de que fomos apenas vítimas, de que, num certo sentido, não poderia ser de outro modo.
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